Da roça no Maranhão ao policiamento no RS: jovem viaja 3,6 mil quilômetros para se tornar soldado

Por Professor Isaquel Silva

A viagem de Bom Jesus das Selvas, no interior do Maranhão, até Porto Alegre, em dezembro de 2017, durou “três dias e três noites”. Assim José Evanilson da Silva Montelo, 24 anos, define os 3,6 mil quilômetros que percorreu para a prova de seleção de policiais militares no Rio Grande do Sul.
Para isso, deixou para trás a realidade da roça, onde plantava e colhia para ajudar a família. Na manhã desta sexta-feira (26), tornou-se um dos 507 novos soldados da Brigada Militar.
O município onde Montelo vivia com os pais e os seis irmãos fica a 465 quilômetros da capital maranhense, São Luís. No povoado, chamado Buritirana, ajudava o pai, João Evangelista, e a mãe, Deuzanira, na lida na roça. Plantavam arroz, feijão, milho e aipim. Criavam galinhas e porcos. Tudo para o sustento da família.
Para auxiliar em casa, também trabalhou como lavador de carros e ajudante em uma siderúrgica. Mas sonhava com a carreira de policial. Em 2017, quando soube que 4,1 mil vagas seriam abertas no Rio Grande do Sul, resolveu arriscar. Sem recursos, estudava pela internet.
— Era um sonho, desde pequeno. Quando vi o concurso, acreditei que era a minha chance — recorda.
Para chegar ao Estado, o jovem recorreu a um empréstimo no banco e contou com apoio de familiares. Foram necessários R$ 670 para pagar a passagem, mais os gastos com alimentação durante a longa viagem. Montelo partiu de ônibus com destino a Porto Alegrequatro dias antes da prova. O percurso durou 72 horas.
— Fiz várias conexões. A primeira em Goiânia, onde tive que pegar outro ônibus. Depois fui em direção a São Paulo. Lá peguei outro ônibus até Santa Catarina e vim parar aqui em Porto Alegre. Não conhecia ninguém. Só eu e Deus mesmo, que me acompanhou — recorda.
Nove meses depois, em setembro de 2018, o nome de Montelo apareceu na lista dos aprovados que deveriam apresentar a documentação. Era mais um passo para a realização do sonho. Há quase nove meses, depois de todas as etapas vencidas, ingressou no curso de formação em Porto Alegre.
No RS, diz que se acostumou com a mudança e inclusive com as temperaturas amenas. Em Bom Jesus das Selvas, a temperatura média mais baixa é 25°C.
— É muito frio o inverno, mas é muito bom esse clima — diverte-se.
Como os pais não conseguiram vir para a formatura nesta sexta-feira, Montelo escolheu como madrinha a soldado Graziele Pinheiro, 35 anos. Com 12 anos de Brigada Militar, ela foi uma das instrutoras que participaram da formação dos novos brigadianos. Sorridente, acompanhava a solenidade durante a manhã.
— Recebi essa honra de ser madrinha dele — diz, emocionada.
Nesta sexta-feira, o recém-formado telefonou para os pais.
— Eles estão muito felizes. É um sonho que se realiza hoje.
Agora, o maranhense está na expectativa da cidade de destino. Após a formatura, com base na classificação que obtiveram ao longo do curso, os novos soldados serão encaminhados para os municípios onde atuarão no policiamento.
A madrinha torce para que ele permaneça na Capital. Já Montelo sorri e diz que está preparado para o que vier. Experiência em mudanças ele já tem.
— Essa formatura para mim representa uma conquista muito grande, não só minha, mas de todos aqueles que me apoiaram e deram forças para que eu pudesse realizar este sonho — confidencia.

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